Ao jovem que se colocou diante de Jesus e o interpelou a respeito do agir moral, conforme nos narra Mateus no capítulo dezenove, Jesus lhe responde, indicando, num primeiro momento, o caminho dos dez mandamentos. Diz-lhe Jesus: “Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos. Ele perguntou-lhe: ‘Quais?’ Jesus respondeu: ‘Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo’” (Mt 19, 17-19).
A indicação dos mandamentos, como primeiro passo para um agir ético que queira se configurar como bom, é uma resposta muito concreta dada por Jesus ao jovem. O Senhor mostra, assim, a importância deles na vida moral. Neste sentido, é decretada a validade das Tábuas da Lei, que fundaram a existência do povo da Aliança (cf Ex 24) e são a sua expressão concreta de amor e fidelidade a Deus, com quem estabeleceram um pacto de amor.
Os dez mandamentos são expressão, sobretudo do amor cuidadoso de Deus para com o seu povo. Ele lhe dá as “dez palavras”, não para serem um fardo penoso ao longo do caminhar da vida, mas pelo contrário, para que o povo continue trilhando um caminho de libertação. Elas, na verdade, serão manifestação concreta de fé no Deus Libertador. É interessante neste sentido perceber que antes de dar os mandamentos, Deus se mostra como o Deus que os tirou do Egito, da casa da escravidão.
Há, portanto, uma conexão bonita entre lei e liberdade. A lei quer ser uma pedagoga para a liberdade do homem, orientando-a para o que é bom e verdadeiro. Não se trata de restringir a liberdade, mas de oferecer-lhe um caminho que a conduza. No caso de Israel, tratava-se de fazer com que o povo não enveredasse pela estrada que o reconduzisse ao Egito, bem como de não reproduzir as mesmas ações opressoras dos egípcios.
Os dez mandamentos, dentro de um contexto histórico-cultural, recolhem os elementos básicos da moral humana. Eles fixam as exigências essenciais das quais não podemos estar aquém. Trata-se de um ponto de partida para um viver ético que se configura como busca incessante de crescimento.
Jesus retoma os dez mandamentos e dar-lhes um sentido mais pleno, pois como Ele mesmo disse: “eu não vim para abolir a lei, mas conduzi-la à perfeição”. O decálogo deve, portanto, ser interpretado à luz de Cristo Mestre que é o cumprimento perfeito da Lei. Neste sentido, as dez palavras devem ser compreendidas conforme o mandamento maior da caridade, plenitude da lei que se expressa nas seguintes palavras de Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”.
O Catecismo da Igreja Católica reconhece no decálogo uma expressão privilegiada da lei natural. Sendo assim, ele nos ensina os deveres essenciais e fundamentais que temos para com a pessoa humana. Visto desta forma, continua o Catecismo, eles enunciam em seu conteúdo fundamental obrigações graves.
Os dez mandamentos são por vezes qualificados de moral e na verdade o são, pois eles interpelam o homem a respeito de suas atitudes para com Deus e o próximo, que são indissociáveis. Contudo, eles não se reduzem a uma mera enumeração de normas a serem observadas. É preciso tê-los sempre presente à luz daquele pacto de amor celebrado entre Deus e o seu povo ao pé do monte Sinai.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
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